Em volta ao mundo das novas tecnologias da informação, é cada vez mais freqüente o acesso de mais e mais pessoas que passam a se conectarem a Internet, com isso, novos computadores são interconectados e novas informações são injetadas na rede. A lógica é aritimética, pois quanto mais comunicações são trocadas via rede de computadores, o chamado ciberespaço, mais o mesmo se amplia e se torna totalizável. Dentro do universo da cibercultura não encontraremos um centro ou uma linha diretriz, caracterizando-se como algo vazio, desprovido de conteúdo particular. Ou melhor, aceita-se todo tipo de conteúdo, colocando pontos em comunicação independente da carga semântica.
Mas não é em função disso que pode-se afirmar que o ciberespaço é “neutro” em termos de influências nos vários âmbitos sociais, visto que o próprio fato do processo de interconexão já tem, e terá ainda mais no futuro, imensas repercussões na atividade econômica, política e cultural. Transformando de forma concreta as condições de vida em sociedade. Porém, o universo do ciberespaço muda constantemente, na medida que a cada nova informação é mais um nó na rede em expansão que torna-se um produtor ou um emissor de novas informações imprevisivéis, reorganizando o universo global por sua própria conta.
De acordo com Levy (1999, p.111):
O ciberespaço se constrói em sistema de sistemas, mas, por esse mesmo fato, é também o sistema do caos. Encarnação máxima da transparência técnica, acolhe, por seu crescimento incontido, todas as opacidades do sentido. Desenha e redesenha várias vezes a figura de um labirinto móvel, em expansão, sem plano possível, universal, um labirinto com o qual o próprio Dédalo não teria sonhado. Essa universalidade desprovida de significado central, esse sistema da desordem , essa transparência labiríntica, chamo-a de “universal sem totalidade”. Constitui a essência paradoxal da cibercultura.
De fato, são várias as implicações culturais e sociais do digital que ocorre a cada nova interface , a cada novo aumento de potência ou capacidade, a cada nova ramificação para outros conjuntos de transformações técnicas. Exigindo a criação de novos sistemas que permitam uma universalização do uso em sistemas operacionais (Windows, Unix ou Mac Os), de linguagem de programação (Java) ou de programas aplicativos (Word; Netscape).
Com o tempo, a variedade inicial de programas desaparece em proveito de alguns programas que se tornam dominantes. Independente da existência de muitas marcas, os princípios técnicos obedecerão, a curto ou longo prazo, a um número de normas internacionais. Tudo ira depender da forma como esse suporte será requisitado em termos de colaboração e comunicação, através de máquina para máquina, de uma empresa para outra.
Nesse sentido, independente do sistema mais utilizado pelos internautas no ciberespaço, tais elementos continuarão progredindo rumo à integração, à interconexão, ao estabelecimento de sistemas cada vez mais interdependentes, universais e “transparentes”. “Esse traço caracteriza diversos sistemas técnicos contemporâneos como a aviação, o automóvel ou a produção e distribuição elétricas”(LEVY, 1999, p.113).
O desenvolvimento das conexões tecnológicas dentro do ciberespaço se constitui como algo sistematizante e universalizante não apenas para se mesmo, mas também, em segundo plano, a serviço de outros fenômenos tecno-socias que tendem à integração mundial e estão atrelados diretamente a eles, tais como: finanças, comércio, pesquisa científica, mídias, transportes, produção industrial, etc. Daí, podemos ver que o valor da cibercultura está na universalidade, ao fazer as devidas interconexões entre máquinas e homens.
No entanto, para que possamos entender o processo contínuo de mudanças na civilização, precisamos refletir sobre a passagem das culturas orais às culturas da escrita. Na medida que, o próprio ciberespaço é um exemplo de revolução dentro das comunicações, tão quanto foi a invenção da escrita.
1.1 Da linguagem oral ao ciberespaço
Ainda no predomínio das comunicações orais, as mensagens lingüísticas eram transmitidas e recebidas dentro do mesmo espaço-tempo. “Emissores e receptores compartilham uma mesma situação idêntica e, na maior parte do tempo, um universo semelhante de significação” (LEVY, 1999, p. 114). Os homens evoluíam dentro do mesmo contexto de comunicação, em fluxo vivo de interações.
Ao analisarmos o processo evolutivo do homem na face da Terra, do Homu erectus ao Homo sapiens, pesquisas revelam que a humanidade apareceu em algum ponto da África oriental, mais ou menos entre um milhão de anos e trezentos mil anos a. C. Nessa pespectiva, paleontólogos indicam que a faculdade da linguagem, conforme é conhecida nos dias atuais, só foi alcançada pelo Homo sapiens. Os esqueletos dos mesmos foram estudados e percebeu-se que possuam capacidades fonatórias, coisa que os homens de Neanderthal não possuíam, pois apenas ruminavam. Assim, os Homo sapiens de acordo com pesquisas, antes de se espalharem-se pelo globo terrestre, teriam surgido na região dos grandes lagos africanos, graças a um contexto geográfico único e a condições ecológicas muito esécíficas (MARTINS, 2000).
Nesse sentido, nossos antepassados mais diretos habitavam todos uma mesma zona geográfica. Não passando de alguns milhares ou de algumas dezenas de milhares de indivíduos, que de acordo com hipóteses científicas, poderiam falar uma mesmo língua, ou línguas próximas, estando em comunicação direta com os outros. Onde a partir dessa origem insondável, desse ponto de partida que beira o mítico, a humanidade se afasta, dispersa-se, ou seja, a uma separação geográfica dos grupos ou clãns, criando uma divergência de línguas, de culturas, uma invenção de mundos subjetivos e sociais cada vez menos comensuráveis.
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
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