Hoje a Internet é mundialmente conhecida como uma grande teia de comunicações que condensa uma série de características do chamado cyberspace, onde tal conceito aparece muito antes daquilo que se denominou Internet. William Gibson, foi o escritor que sua em sua obra de ficção chamada Neuromancer de 1984, designava o ciberespaço como o espaço criado pelas comunicações mediadas por computador, abreviando de “CMC’s” .
Com o aparecimento do termo, rebatizou-se uma série de novas características que eram conhecidas até então por “esfera de dados”, que ao longo de sua utilização, englobou vários outros objetos, originando expressões como cibercultura, ciberpunk e ciberocracia. Nesse sentido, poderíamos relacionar o termo cibercultura com os fenômenos relacionados ao ciberespaço, ou melhor, aos fenômenos de comunicação mediados por computadores. Contudo, é preciso que se perceba que esse conceito de cibercultura se tornou muito mais extenso que o de ciberespaço.
Tendo em vista, que esse novo conceito de cibercultura está relacionado com as novas tecnologias, especificamente as voltadas a comunicação digital, à realidade virtual e também à biotecnologia quando se trata manipulação genética e tantos outros exemplos da área, a cibercultura passe a ser entendida como um estudo dos fenômenos tecnológicos com a nova “tecnologia intelectual” engendrada pelo computador.
Pois segundo Levy (1997, p.07):
Na época atual, a técnica é uma das dimensões fundamentais onde está em jogo a transformação do mundo humano por ele mesmo. A incidência cada vez mais pregnante das realidades tecnoeconômicas sobre todos os aspectos da vida social, e também os deslocamentos menos visíveis que ocorreram na esfera na esfera intelectual obrigam-nos a reconhecer a técnica como um dos mais importantes temas filosóficos e políticos de nosso tempo.
O que antes era descrito pela ficção científica em livros e filmes, em que seres humanos assumiam estados alterados de consciência e percepção, através de implantes artificiais ou drogas de fácil aplicação, com o advento da cibercultura surge um conjunto de técnicas ( materiais e intelectuais ), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço.
Existem uma série de revistas especializadas em informática e divulgação científica que demonstram esse avanço tecnológico e mais especificamente da cibercultura. Dado, o crescimento rápido da Internet, a mídia de massa passa a colocar em pauta esses novos conceitos da “revolução tecnológica”, onde as camadas médias que estão sempre ávidas por “atualidades” se deparam com conceitos tecnológicos, tais como: conectividade; realidade virtual; globalização das comunicações, etc.
O acesso a rede, termo utilizado para se denominar também a Internet, a cada minuto que passa milhares de pessoas se conectam, novos computadores são conectados e consequentemente novas informações são lançadas na rede. Passamos então a viver a seguinte lógica: “(...) quanto mais o ciberespaço se amplia, mais ele se torna “universal”, e menos o mundo informacional se torna totalizavel” (LEVY, 1999, p. 111). Esse universal da cibercultura não possue um norte de ínicio e de fim, podendo ser considerado vazio e sem conteúdo particular. Ou pode ser preenchido por vários conteúdos ligando um ponto qualquer com qualquer outro, dentro dessa teia de comunicações, independente das interpretações que venham a ter. Porém, não podemos considerar que a universalidade do ciberespaço é “neutra” ou sem conseqüências, “(...) visto que o próprio fato do processo de interconexão já tem, e terá mais ainda no futuro, imensas repercussões na atividade econômica, política e cultural” (LEVY, 1999, p. 111).
A cibercultura transforma , efetivamente, as condições de vida em sociedade. Só que que diferente do esperado, não existem certezas. Trata-se de um universo indeterminado e que tende a manter sua indeterminação, pois cada novo nó da rede de redes em expansão constante pode tornar-se produtor ou emissor de novas informações, imprevisíveis, e reorganizar uma parte da conectividade global por sua própria conta. (LEVY, 1999, p. 111)
Assim, é que o ciberespaço se constrói em sistemas de sistemas, mas é pelo mesmo fato que podemos defini-lo como um “sistema do caos”. A técnica desenvolvida pelo homem se reveste de transparência, acolhendo seu crescimento incontido e todas as opacidades de sentido. Se tornando um labirinto móvel, em expansão, mas sem um plano definido ou possível. Uma universalidade que não tem um significado central, um sistema da desordem conhecida também por “universal sem totalidade” (LEVY, 1999). Constituindo-se a essência paradoxal da cibercultura.
O indivíduo passa a fazer parte do mundo virtual da cibercultura, onde surge de acordo com Levy uma nova modalidade de ser, que só pode ser compreendido através do processo de viurtualização. Para entender tal conceito, parte-se a tradição clássica filosófica aristotélica que afirmava que o logos ( razão) parte da compreensão da oposição ato/potência/ato para os estados possivéis de mudança do ser. Como exemplo, poderíamos ter uma criança que tem em potência ser um adulto e só se torna ato nomente quando se torna adulto. Para Levy, esta análise é insuficiente para explicar a vitualização que o indivíduo passa a operar. Pois, a passagem do possível e o real reside no plano lógico, na mediada, que o possível associa-se ao real, sem necessariamente existir, não passando de um mero quantificador existencial.
Nesse sentido, o mundo virtual também vai distinguir-se do mundo atual, pois diferentemente do possível, não contém em si o real finalizado, mas apenas um complexo de possibilidades, onde dependendo do contexto se atualiza de maneiras distintas. ”O real assemelha-se ao possível; em troca o atual em nada se assemelha ao virtual: responde-lhe”(Levy, 1996, p.17).Poderíamos então falar em um cidadão virtual que só pode ser compreendido como um “complexo problemático” que dialoga e interaje com o atual, e transforma-se de acordo com o contexto. Comparável a um programa de computador, que ao interagir com o operador humano, os processos de atualizações serão resultados da subjetividade do operador.
A relação de ciberespaço com a virtualização da realidade, seria uma migração do mundo real para um mundo de interações virtuais. O indivíduo saí do “agora” e do “isto” para uma variável contingente . Daí, esta nova concepção espaço-temporal estabelece uma realidade social virtual, que por mais que mantenha as mesmas estruturas da sociedade real, não possue necessariamente uma correspondência total com esta, na medida que, possue seu próprios códigos e estruturas.
Tal é a velocidade de idéias que é imprimida pela cibercultura, que consequentemente provoca uma mudança radical no imaginário social, onde tranforma a natureza das relações dos homens com a tecnologia e entre si. Fazendo-se necessário, segundo Pierre Levy uma interrelação entre subjetividade e tecnologia. “É mais difícil , mas também é mais útil apreender o real que está nascendo, torna-lo autoconsciente, acompanhar e guiar seu movimento de forma que venham à tona suas potencialidades mais positivas”(LEVY,2006,p.118).
A humanidade passou de acordo com Levy por várias fases da linguagem, sendo a primeira chamada por ele de oralidade primária, onde o edifício cultural está fundado nas lembranças dos indivíduos. Essa memória como um processo de aprendizagem ainda é bastante utilizada no uso das novas tecnologias, visto que, está memória encontra-se tão objetivada em dispositivos autômatos, separadas do corpo e dos hábitos coletivos, que é possível perguntar se a própria noção de memória é pertinente.
Partindo de uma linearidade que o surgimento da escrita determina para uma racionalidade ocidental, surgem as novas tecnologias e com elas um novo modelo de mundo, onde toda uma antiga ordem de representações e dos saberes da lugar a um novo imaginário, modos de conhecimento e estilos de regulação social ainda pouco estabilizados (LEVY, 2006).
Esse novo paradigma das novas tecnologias, proporcionam uma mudança na forma como as pessoas se relacionam entre si e com a própria tecnologia, exigindo novos códigos, uma apropriação diferenciada, ou seja, o surgimento de novos meios de sociabilidade e do imaginário coletivo.
Nessa perpectiva, percebe-se que a cibercultura traz consigo uma modalidade de pensamento que resgata aquela primeira fase do homem associada a oralidade de lembrar numa velocidade muito rápida as mudanças ocorridas nas novas tecnologias.
De acordo com Levy (2006, p.82):
Não há protanto como opor um “pensamento mágico” ou “selvagem” a um “pensamento objetivo” ou “racional”. Face as culturas “primitivas”, na verdade orais, estamos simplesmente diante de uma classe particular de ecologias cognitivas, aquelas que não possuem os numerosos meios de inscrição externa dos quais dispõe os homens do fim do século XX. Possuindo apenas os recursos de sua memória de longo prazo para reter e transmitir as representações que lhe parecem dignas de perdurar, os membros das sociedades orais exploram ao máximo o único instrumento de inscrição de que dispunham.
Percebemos que, a cibercultura se tormou uma grande ferramenta de mudança social com seus vários termos que o cidadão se apropria ao mesmo tempo que acompanha o dinamismo dessas novas tecnologias, como é o caso da interatividade na rede, que seria outro termoo da cibercultura que faz com que percebamos que a linguagem usada por esse novo cidadão virtual é dinâmica e pssibilita navegar nos textos dentro de outros textos, são os chamados links. de hipertextos. Ele é chamado a participar de forma subjetiva ao se defrontrar com a problemática textual. Os dispositivos hipertextuais virtualizam o processo de leitura ao exteriorizarem, objetivarem as atividades, antes subjetivas, de conexão, montagem e interrelação. Logo, esta transformação, aparentemente quantitativa, é de natureza qualitativa: o leitor sempre relacionou o que estava lendo com o seu passado intelectual, suas lembranças e suas referências, construindo, em sua consciência, o seu hipertexto privado. Assim, o trabalho de Pierre Levy, se torna de fundamental importância para refletirmos a respeito da cibercultura e suas implicações na formação do cidadão.
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
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